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Processamento visual é o mecanismo pelo qual percebemos, interpretamos e compreendemos as informações visuais provenientes do ambiente, convertendo-as em representações cognitivas e perceptivas (Goldstein, 2014). Isto é, além dos olhos envolve como o cérebro processa e dá sentido a todas as informações visuais que recebe.
Um transtorno de processamento visual refere-se a uma condição na qual há dificuldades na interpretação e compreensão de informações visuais pelo cérebro. Essas dificuldades podem afetar várias habilidades visuais, incluindo a percepção, o reconhecimento, a coordenação e outras funções visuais importantes. Os transtornos de processamento visual não são acompanhados necessariamente de problemas na acuidade visual (capacidade de ver detalhes), mas sim na forma como o cérebro interpreta e processa as informações visuais recebidas pelos olhos.
O Sistema Visual vai além dos olhos!
Há quatro componentes no sistema visual:, formação da imagem (córnea e cristalino) ; exposição à luz (íris e pupila); detecção da imagem (retina) e processamento (Cérebro)
“Enxergar”, se refere à entrada de estímulos luminosos pela córnea, pelo controle de luz da iris e pupila, e pela lente do olho, o cristalino e pela formação da imagem no fundo da retina. contém células fotorreceptoras, como os cones (responsáveis pela visão central ) e bastonetes (responsáveis pela visão periférica) , que convertem a luz em sinais elétricos que são levados ao córtex occipital pelo nervo óptico.
As perdas visuais podem ocorrer por alterações no globo ocular (catarata, glaucoma, albinismo), na retina (retinopatia, retinose), no nervo óptico (palidez de papila).
Processar o que se vê envolve a interpretação e compreensão consciente das informações visuais. Após a formação da imagem na retina, o cérebro processa sinais elétricos percorrendo diferentes caminhos, com a participação de diferentes regiões cerebrais (subcorticais e corticais), estabelecendo complexos circuitos neurais para o cérebro entender o que está sendo visto. Essa etapa envolve a interpretação de formas, cores, movimentos e outras características visuais. O cérebro integra essas informações com experiências passadas, conhecimento e contexto para formar uma compreensão consciente do que está sendo visto.
Um exemplo bastante comum para entender a diferença entre o “ver” e o “processar” está em crianças que apresentam dificuldades na escola como lentidão para ser alfabetizada, dificuldades para executar atividades específicas como cópias, seguir corretamente as linhas na folha do caderno, escrever corretamente, manter o foco atencional. Nestes casos comumente alterações nas habilidades de Processamento Visual estão presentes, porém quando submetidas a uma avaliação oftalmológica, apresentam desempenho adequado. De forma inadequada, em grande parte dos casos, a investigação é encerrada e não se relaciona o baixo desempenho às questões visuais.
A avaliação de Processamento Visual é complementar e tão importante quanto a investigação oftalmológica. Esta avaliação investigará o desempenho em habilidades como movimentação ocular, coordenação oculomotora, atenção e a memória visual, closura visual, constância de forma entre outras que, associadas às demais habilidades de Processamento, representam pré-requisitos para um desempenho eficiente não somente em âmbito escolar, mas também para executar atividades de rotina diária em outros ambientes como o doméstico.
De forma resumida, “enxergar” é o processo físico e fisiológico de receber estímulos visuais, enquanto “processar o que se vê” refere-se à interpretação cognitiva desses estímulos. Embora o enxergar seja em grande parte automático e ocorra involuntariamente, o processamento visual envolve atividades cognitivas mais complexas e conscientes, permitindo a compreensão e a interpretação do ambiente visual.
A avaliação com o oftalmologista, médico especializado em cuidar da saúde ocular, é a parte inicial de investigação para identificar se uma pessoa tem ou não alteração de processamento visual.
Esta avaliação tem como objetivo avaliar a saúde e a funcionalidade dos olhos, identificar problemas visuais e oculares, bem como prevenir e tratar condições que possam afetar a visão.
Realizar avaliações oftalmológicas regularmente é crucial para manter a saúde ocular e prevenir problemas de visão. Essas avaliações são importantes em todas as idades e devem ser realizadas periodicamente mesmo diante de um exame oftalmológico normal, pois as necessidades visuais podem mudar ao longo do tempo.
A avaliação oftalmológica inclui:
A avaliação do processamento visual envolve uma série de testes e avaliações realizados por profissionais habilitados em saúde visual. O processo pode variar dependendo do caso específico da pessoa avaliada e podem incluir os seguintes elementos:
Os testes são simples, não invasivos e aplicados sempre em sessões presenciais. Com base nos resultados é possível identificar áreas específicas com dificuldades de Processamento Visual e desenvolver um plano de intervenção personalizado.
As alterações no processamento visual podem manifestar-se de diversas formas, e os sinais podem variar dependendo da natureza e da gravidade do problema. Aqui estão alguns sinais que podem indicar possíveis alterações no processamento visual:
Diante de parte desses sinais, é aconselhável procurar a avaliação inicial de um oftalmologista e, mesmo diante de resultados dentro do esperado, procurar também um profissional de saúde visual especializado em problemas de processamento visual. Esses profissionais podem conduzir testes específicos para identificar possíveis dificuldades e recomendar intervenções apropriadas, como terapia visual ou outras abordagens para melhorar o processamento visual.
A entrada de informação ocorre, prioritariamente, por meio de estímulos visuais e auditivos. As dificuldades de aprendizagem escolar podem estar relacionadas a diversos fatores, e as alterações no processamento visual são uma das áreas que podem influenciar o desempenho acadêmico de uma pessoa.
A seguir apresentamos algumas maneiras como as alterações no processamento visual podem impactar a aprendizagem:
Muitas das dificuldades de aprendizagem são multifatoriais, envolvendo contribuições de diferentes áreas, como visual, auditiva, cognição, linguagem, habilidades motoras e outros aspectos.
Se houver suspeitas de problemas no processamento visual que possam estar afetando o desempenho acadêmico, é recomendável consultar um profissional de saúde visual, com avaliação oftalmológica prévia, para avaliação e intervenção apropriada.
Testes específicos podem ser conduzidos para identificar e abordar possíveis dificuldades no processamento visual.
As alterações no processamento visual podem estar associadas a vários transtornos e condições, afetando a forma como o cérebro interpreta e processa informações visuais. Alguns dos transtornos nos quais alterações no processamento visual são observadas incluem:
O termo deficiência visual cortical refere-se à alterações nas vias visuais do córtex, de forma que a pessoa pode ver mas não pode selecionar e categorizar o que vê e o mundo visual é uma aglomeração de cores, formas e tamanhos. O exame do globo ocular está sem alterações e não há lesões nas estruturas do olho que justifiquem tamanha dificuldade visual. A história pregressa inclui problemas neurológicos, prematuridade, anóxia neonatal.
A deficiência visual cortical tem sido avaliada funcionalmente por dez características visuais específicas baseadas em uma escala denominada de (Escala CVI Range). A base da avaliação está na compreensão de todas as funções das vias de processamento visual dorsal e ventral.
A deficiência visual cerebral é um termo mais abrangente, que considera alterações nas vias visuais do córtex, nos centros visuais do cérebro e nas áreas associativas visuais, de modo que podem ocorrer alterações de processamento visual associados a distúrbios dos movimentos oculares como estrabismo, nistagmo além de alterações visuais. A avaliação se baseia em rastreadores que identificam mais de 16 comportamentos visuais específicos.
Dentre as causas da DVC temos: leucomalácia periventricular; anoxia neonatal; prematuridade; infecções congênitas com herpes, toxoplasmose, meningite; síndrome do vírus da ZIKA, e alterações genéticas.
Para avaliar os comportamentos visuais, obrigatoriamente deve-se conhecer todas as funções visuais relacionadas com a via de processamento visual dorsal , denominada da via do “onde eu vejo “ e a via de processamento visual ventral denominada de da via do “quê eu vejo”. O processamento visual envolve o reconhecimento daquilo que se vê, mas também a identificação de onde estão aquilo que vejo.
2. Transtornos de leitura e Escrita, incluindo a Dislexia:
– A dislexia é um transtorno de aprendizagem que afeta a habilidade de ler, escrever e soletrar. Dificuldades no processamento visual, como a percepção inadequada de letras e palavras, podem contribuir para os desafios enfrentados por pessoas com transtornos de leitura e escrita.
3. Síndrome de Convergência Ocular Insuficiente (SCI):
– A SCI é caracterizada por dificuldades na convergência dos olhos para manter o foco em objetos próximos, o que pode afetar a leitura e tarefas que exigem visão de perto.
4. Transtorno do Processamento Visual-Motor (ou Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação):
– Pessoas com esse transtorno podem ter dificuldades na integração de informações visuais e motoras, afetando habilidades como escrita, coordenação motora fina e atividades esportivas.
5. Síndrome de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH):
– Algumas pessoas com TDAH podem apresentar dificuldades na atenção visual e na capacidade de manter o foco em estímulos visuais, o que pode impactar o desempenho acadêmico.
6. Síndrome do Olho Seco e Outras Condições Oculares:
– Alterações no processamento visual também podem ser observadas em condições oculares, como síndrome do olho seco, que pode causar desconforto visual.
7. Transtornos do Espectro Autista (TEA):
– Pessoas com TEA podem ter diferenças no processamento visual, afetando a forma como percebem e respondem a estímulos visuais. Essas alterações são observadas em habilidades como a percepção de faces, a identificação de movimentos biológicos, de foco visual seletivo e para alternar o foco visual.
8. Transtornos de fala:
– A aquisição da fala requer, entre outras habilidades, a possibilidade de imitação motora dos movimentos articulatórios. O processamento visual é fundamental para que esta imitação ocorra, permitindo pela visualização posicionar adequadamente estruturas como a língua e lábios para produzir diferentes sons. Em pessoas com transtornos fonológicos e apraxia de fala as alterações de processamento visual podem estar presentes.
9. Afasias:
– As alterações de processamento visual contribuem para dificuldades de fala, leitura e escrita em pessoas com Afasia pelo comprometimento de habilidades como a percepção e discriminação visual, memória visual e a coordenação oculomotora.
É importante observar que a relação entre alterações no processamento visual e esses transtornos é complexa, e muitas vezes essas condições são multifatoriais, envolvendo contribuições de diferentes áreas do desenvolvimento. A avaliação por profissionais de saúde visual, como oftalmologistas e especialistas em terapia visual, é essencial para identificar e abordar especificamente as dificuldades no processamento visual relacionadas a esses transtornos.
O processamento visual é um conjunto complexo de habilidades que envolvem a interpretação e compreensão das informações visuais que recebemos do ambiente. Diversas habilidades contribuem para o processamento visual eficiente. Algumas das habilidades de processamento visual incluem:
Essas habilidades são inter-relacionadas e desempenham um papel fundamental em várias atividades diárias, como leitura, escrita, atividades esportivas e interações sociais. Dificuldades em qualquer habilidade podem afetar a realização de tarefas visuais e cognitivas. A avaliação por profissionais de saúde visual pode ajudar a identificar áreas específicas de dificuldade e orientar intervenções apropriadas, como terapia visual.
Profissionais de áreas da saúde e educação podem realizar avaliações de habilidades de processamento visual, desde que tenham habilitação na área.
É importante ressaltar que, em casos de dificuldades específicas no processamento visual, procurar um especialista qualificado é fundamental pois conduzirá testes mais detalhados para determinar a natureza das dificuldades e desenvolver um plano de intervenção adequado.
Na VIVER – Visão para Aprender, as avaliações são realizadas por fonoaudiólogas pós-graduadas em neurociências da visão. As indicações para a realização da investigação são dificuldades de comunicação, aprendizagem e linguagem para complementação de processo avaliativo e auxílio no delineamento de programação de intervenção terapêutica para fonoaudiólogos, psicopedagogos, neuropsicólogos, psicomotricistas, terapeutas ocupacionais e intervenção educacional para auxílio na conduta escolar.
Para o tratamento de alterações no processamento visual, você pode procurar a ajuda de profissionais especializados em saúde visual que abordarão necessidades específicas de intervenção junto às pessoas com dificuldades.
Ao procurar tratamento para alterações no processamento visual, é importante considerar as necessidades específicas da pessoa e a natureza das dificuldades observadas. Uma avaliação completa por um profissional qualificado ajudará a determinar o curso de tratamento mais apropriado.
A abordagem para o tratamento de alterações no processamento visual pode variar dependendo da natureza e da causa específica do problema. Algumas condições podem ser tratadas com sucesso, enquanto outras podem requerer intervenções contínuas para gerenciar os sintomas, minimizar as alterações observadas ou ainda otimizar o desempenho em atividades ou funções específicas. Vamos considerar alguns pontos:
Em alguns casos, as alterações no processamento visual podem ser uma característica permanente, mas as intervenções apropriadas podem ajudar a melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida. O sucesso do tratamento também pode depender da identificação precoce das dificuldades e da consistência na implementação das intervenções recomendadas.
Cada caso é único, e a decisão sobre o curso de tratamento deve ser baseada na avaliação individual realizada por profissionais de saúde visual qualificados. Se você ou alguém que você conhece apresenta sintomas de alterações no processamento visual, procure avaliação e orientação adequadas.
Não há contraindicações para potencializar habilidades visuais. Exercícios visuais são sempre bem vindos, em especial para crianças em período de desenvolvimento (até os 12 anos) como mais um fator de estimulação para potencializar a aprendizagem e em idosos para manter funções em um período no qual o declínio em habilidades, entre elas as de processamento visual, é muito frequente.
Na habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência visual cortical/cerebral, a terapia visual associada à fonoaudiológica é essencial para o desenvolvimento de linguagem, comunicação e aprendizagem. Pessoas com DVC necessitam de recursos específicos de comunicação aumentativa e alternativa que atendam as suas especificidades visuais. O sucesso da terapia fonoaudiológica de CAA junto a pessoas com alterações visuais deve considerar a avaliação da simultanagnosia e prosopagnosia. Muitas vezes o insucesso na indicação de um sistema de CAA está na dificuldade da pessoa em identificar um símbolo dentre muitos outros que estão em sua prancha de papel ou em tablets/iPads. Pessoas com DVC podem ter dificuldades em reconhecer a face humana e em identificar e reconhecer os detalhes e características salientes entre figuras, por exemplo, reconhecer as diferenças entre um lobo e um uso, ao ver a imagem de ambos. Tal comportamento visual impacta o reconhecimento de pictogramas.
No que se refere à processos de habilitação e/ou reabilitação, pessoas com distúrbios de leitura e escrita, transtornos fonológicos, transtornos do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtornos neurológicos congênitos ou adquiridos, transtorno do espectro do autismo (TEA) e dificuldades de aprendizagem são muito beneficiadas e tendem a apresentar evoluções mais significativas quando realizam intervenções que incluem a estimulação de habilidades visuais integradas de forma sistemática ao programa terapêutico.